Empresas que se posicionam como sistemas abertos atuam no desenvolvimento da humanidade

Equipe Nortus
28/05/2020

Dinâmica em Espiral Integral aplicada às organizações tem impacto positivo no desenvolvimento dos colaboradores, empresa e planeta

A Dinâmica em Espiral Integral é um valioso estudo sobre como a evolução da humanidade acontece, com grande aplicabilidade em diferentes meios e situações, especialmente para a resolução de conflitos. Este estudo iniciou-se com o professor Clare W. Graves, que identificou, a partir de pesquisa com mais de mil adultos, oito níveis de existência psicológicas e culturais com oito sistemas de valores.

Em continuidade, Dr. Don Beck e Dr. Chris Cowan aprofundaram os estudos e publicaram o livro “Dinâmica da Espiral – Dominar Valores, Liderança e Mudança”. Beck foi além ao comprovar a utilidade e aplicação deste estudo em um conflito de grande proporção: as tensões pelo fim do regime de segregação racial (apartheid) na África do Sul.

Este foi um dos mais importantes cases da aplicação dos conceitos da Dinâmica em Espiral Integral. Nelson Mandela conseguiu negociar a transição pacífica do apartheid para uma democracia multirracial, tendo como base os conhecimentos sobre Dinâmica em Espiral Integral apresentados por Don Beck, que o assessorou neste processo, evitando que ocorresse uma guerra civil no país no início dos anos 1990.

Dinâmica em Espiral Integral e o mundo corporativo

A Dinâmica em Espiral Integral também tem sido utilizada com sucesso no mundo corporativo. A Nortus tem difundido este conhecimento por meio de cursos com o Ph.D Darrell Gooden, o sucessor de Don Beck nos estudos sobre a Dinâmica em Espiral Integral. Nesta entrevista exclusiva, o instrutor internacional da Nortus, Dr. Gooden, explica por que líderes, gestores, empresários com os conhecimentos sobre a Dinâmica em Espiral Integral podem conduzir as organizações pelo caminho do desenvolvimento sem conflitos.

O quanto o desenho da estrutura de uma empresa – a forma como ela se organiza na realização das tarefas, como organiza as pessoas internamente, o seu desenho organizacional – impacta em melhores resultados?

Darrell Gooden – Vamos considerar que quem desenha a organização está ciente da Espiral. Alguém que possua conhecimentos sobre a Dinâmica em Espiral olharia para a organização a partir de 3 planos: X, para o desenho das tarefas, Y para o desenho dos sistemas que irão coordenar essas tarefas, e Z, que seria o nível executivo que enxerga X e Y e os integra. Um desenho organizacional em espiral, ao olhar para o plano X, o desenho das tarefas, primeiro pergunta: Em que este profissional é bom? Qual é a sua força? Por meio de perguntas, você desenha o seu trabalho para ele. É o oposto de pegá-lo e colocá-lo em uma função. Você desenha a organização com as pessoas na cabeça. Esta é uma abordagem muito inusitada. Em seguida, ao projetar o plano Y, que se refere aos sistemas, sejam eles quais forem (ERP, sistemas de atendimento, operação, todos estes), independentemente da tecnologia ou metodologia, é necessário ajustar esses sistemas para que o que foi projetado no plano X tenha uma conexão natural com Y. A inteligência corporativa deve olhar para isso e pensar nisso como o plano Z – independentemente de serem hierárquicos, distribuídos, centralizados, independentemente de quais sejam essas construções, se você projeta o trabalho para que a pessoa se esforce, você projeta os sistemas para que os sistemas apoiem ​​as pessoas que estão no campo da tomada de decisões, que são os executivos com conhecimento da Espiral.

Resumidamente, a Dinâmica em Espiral percebe o modo como as empresas normalmente tratam a estrutura da organização como algo ultrapassado, em que a função é desenhada independente do ser humano e independentemente do que determinada pessoa poderia fazer aqui e agora.

Se a Dinâmica em Espiral falasse, o que ela diria aos líderes dentro das organizações?

DG – Se a Dinâmica em Espiral falasse, parafraseando o professor Clare Graves, ela diria: “As pessoas têm o direito de ser o que são neste momento”. Existe o que chamo de uma validação intrínseca – que significa você ter o direito de ser quem você é e estar onde você está. É por isso que, se a Dinâmica em Espiral falasse, ela diria: permita aos líderes conhecer estas pessoas. Elas têm o direito de ser quem são neste momento de suas vidas, e a sua responsabilidade como líder é assegurar que o sistema esteja aberto. Se o sistema está aberto, a pessoa pode emergir para a próxima fase de desenvolvimento dela. Naturalmente, isso vai acontecer. É o oposto de ter um sistema fechado.

Onde a Dinâmica em Espiral Integral pode dar a maior contribuição aos executivos que estão conduzindo uma organização?

DG – Quaisquer que sejam os valores da organização, é importante que o líder executivo esteja a dois níveis acima. Assim, ele poderá conduzi-la naturalmente ao próximo nível evolutivo que faça sentido ao conjunto. Por exemplo, se a empresa como um todo tem seus valores no nível Azul* (tendo a ordem e a estabilidade um elevado grau de importância para todos), então os líderes executivos deveriam estar pensando como um Laranja* ou como um Verde*. Este seria, naturalmente, o próximo nível para o qual evoluiria o todo da organização. Então, a Dinâmica ajuda a entender melhor o que está acontecendo na organização.

*A Dinâmica em Espiral Integral utiliza a imagem de uma espiral ilustrada pela imagem abaixo. Cada fase é representada por uma cor. Assim, em sua jornada evolutiva, à medida que vai ascendendo, o ser humano incorpora novos sistemas de valores.

Fonte da ilustração: What is enlightenment
Magazine reprint series
The Never-Ending Upward Quest
by Jessica Roemischer

Em que sentido a Espiral pode se mostrar interessante quando há um problema a ser resolvido?

DG – Muito frequentemente, organizações e líderes focam em pequenas soluções. Fazem um pouco aqui, um pouco ali. E o problema persiste. É como se um médico estivesse com apendicite. Ele operaria em si mesmo? Não. Quando temos o que chamo de um problema traiçoeiro ou uma desordem social, e você está analisando resultados potenciais, é importante que a liderança reconheça [o problema] e dê um passo para além de si mesma; busque conselheiros esclarecidos para lidar com a situação. Fazendo isso, é necessário um método para identificar como realizá-lo e o caminho a ser percorrido. É problemático quando você está em meio ao problema e não amplia a sua visão. Ampliando a sua visão, você ganha tempo para desacelerar e procurar as pessoas certas e os tomadores de decisão certos.

Quanto maior a organização é mais complicado o problema, eu uso uma combinação do método de indagação apreciativa e da Dinâmica em Espiral. Quando temos um problema de natureza complicada, é útil relembrar a todos quem eles são. Por que estão aqui no planeta. Quais foram as contribuições que fizeram até agora. Precisamos voltar ao passado e nos recordarmos de quem somos para, de fato, darmos início à conversa propriamente. A partir daí, podemos falar sobre ideias, desafios, oportunidades, lacunas e mudanças de linguagem. Um dos motivos pelos quais a Dinâmica em Espiral é tão poderosa é o trabalho feito na África do Sul, com Dr Beck e Nelson Mandela. Foi um problema muito complicado. [A África do Sul] é um microcosmo do mundo, com tensões raciais e econômicas. Ser capaz de modificar a linguagem para que não seja mais [dividido em] negros e brancos, que não seja “eles”, “os afrikaans”, e sim trazer o diálogo para quais são os valores sendo reproduzidos, e quais são os valores que precisamos construir para acharmos uma solução e tornar a situação mais saudável. Você muda o diálogo, e garante que as pessoas que podem lhe ajudar a resolver o problema estão na sala com você. É necessário começar em algum lugar.

Como deveríamos iniciar o processo que permita às pessoas desenvolverem uma mentalidade mais complexa e mais abrangente?

DG – Hoje, a grande maioria das pessoas no mundo reside em um nível de complexidade em que tem que descobrir como viver, como ser e como ter uma plenitude naquele nível [em que se encontram]. Primeiro, é preciso ter certeza de que o nível de existência é saudável. De um líder, espera-se que a sua condição de vida seja mais especializada em coisas complexas, porque, à medida que você se move pela Espiral, por definição, a sua habilidade para lidar com mais complexidade é autônoma. Ou seja, acontece porque tem que acontecer. O que o líder pode fazer é tornar esta consciência evidente; ser o líder que informa em Espiral. Isso significa ser capaz de olhar para a organização e dizer: “Esta organização é realmente Azul, e eu sei que o Azul é saudável. E eu acabei de entrar no Laranja, mas também tenho um pouco de Verde, então estou um pouco à frente”. Este seria o ideal. Agora, em tese, a Dinâmica em Espiral Integral diz: “Se a organização é Azul, a próxima coisa natural é o Laranja.” Então, o líder irá desenhar corredores de oportunidades para conduzir todos na organização ao próximo nível saudável, para que todos estejam mais alinhados ao sucesso.

Ao implantar a Dinâmica em Espiral Integral, o que a empresa pode esperar de benefícios e resultados?

DG – Pessoas, planeta, propósito, lucro. Tudo isso. Se você está implementando a Dinâmica em Espiral, o seu objetivo para existir é a sua capacidade de honrar o planeta de maneira saudável. Você atende às necessidades das pessoas, não apenas os seus funcionários, mas os seus clientes, quem quer que sejam eles no mercado. É tudo isso; pessoas, planeta, propósito e lucro. Todos esses pontos devem apresentar um resultado melhor. A empresa é lucrativa, os seus colaboradores são felizes, os seus clientes estão felizes, o planeta é saudável, e a empresa reconhece todas essas dimensões. Então, a maneira pela qual o seu objetivo é cumprido é honrada.

Há um momento ideal para fazer a inclusão da Espiral em uma organização?

DG – Onde quer que uma empresa possa se encontrar, a qualquer momento no tempo. Não é necessário que se esteja em um espaço particular e não há um tempo [apropriado para a inclusão da Espiral]. Creio que a teoria da Espiral é uma abordagem evolucionária, metapsicossocial, bioespiritual e holística, e isso sugere que, independente do momento atual da organização, se houver uma pessoa que descubra a Dinâmica em Espiral e tenha algum grau de influência, é um bom momento [para incluí-la]. Acho que a resposta é: a qualquer momento, porque a Espiral é algo que já existe, e cabe a nós apenas descobri-la. É como se entrássemos em um quarto e ligássemos a luz. Por causa da sua natureza e da maneira natural em que a Dinâmica em Espiral esboça o mundo, não é importante onde a empresa se encontra no momento. Não há necessariamente um momento oportuno.

Conseguimos ver, no mundo, organizações vivendo neste sistema saudável?

DG – Tudo o que vi na Nortus tem uma iluminação. O que vocês relataram sobre a equipe da Nortus, a forma como se organizam, é um exemplo do que podemos chamar de consciência de Segunda Camada. Poderia mencionar, também, a South American Airlines, com quem Dr. Beck trabalhou. Eles definiram o design da organização desde o início e, na época, atingiram uma das melhores rentabilidades e foram considerados um dos melhores lugares do mundo para se trabalhar.

O problema é que você pode levar uma organização por um período até onde ela precisa estar, mas, depois de uma intervenção ou uma reformulação, ela retrocede. Manter-se em desenvolvimento é um ato de equilíbrio. Considerando os contextos políticos, culturais, e os sistemas muito fechados que temos, é necessário que empresas saudáveis existam para mudar esses sistemas de modo pacífico, natural, e que elas se desenvolvam sem conflitos. Que essas empresas tenham consciência de poder agir nesses sistemas. É necessário agir de forma consciente para mudá-los.


Receba nossos conteúdos e fique por dentro de todas as novidades da Nortus